Olá, pessoal!
Gostaria de iniciar aqui uma discussão sobre as evidências em favor do Geocentrismo e/ou de uma Terra estacionária. Gostei muito das críticas do Douglas ao Heliocentrismo. Entendi que elas se encontram em duas categorias: (1) o problema histórico da formulação da teoria: interesses não científicos, como as referências ocultistas ligadas ao deus sol; as atitudes suspeitas do Kepler; e a posição geocentrista de Tycho Brahe, mesmo em posse de dados astronômicos numericamente relevantes, sem dúvida os melhores para a época. (2) a ausência de efeitos mensuráveis relativo às velocidades alegadas para a Terra, o sistema solar e a galáxia, os quais seriam esperados para corpos em movimento acelerado e, possivelmente, não uniforme.
Dito isso, gostaria de começar o tópico levantando algumas questões.
1) Que evidências físicas existem em favor do Geocentrismo?
Sei que o experimento de Michelson-Morley pode ser entendido como uma evidência, mas essa não é a única conclusão possível. E nem é necessária. Tudo o que o experimento diz é que as flutuações no deslocamento do padrão de interferência não são suficientes para demonstrar uma velocidade relativa entre a Terra e a luz, considerando um éter em repouso (conforme a suposição da época). A conclusão de que a ausência de velocidade relativa é devido à Terra estar parada é possível, mas não é uma solução única.
2) E quanto ao Pêndulo de Foucault?
Eu só tenho um conhecimento superficial sobre movimentos anômalos, tipo efeito Allais. Mas além desses experimentos serem acusados de controvérsias metodológicas, não consigo entender a ligação deles com o Geocentrismo. Fora isso, sei que existem acusações de controle magnético dos pêndulos. Mas isso não constitui evidência em favor do Geocentrismo. Mas, claro, é um comportamento estranho.
3) Como entender o efeito Lense-Thirring ou outros efeitos de frame-dragging?
Em resumo, efeitos de frame-dragging são efeitos de "arraste" devido à distorção do espaço-tempo nas proximidades de corpos cuja distribuição de massa é não estacionária. Em 2011, por exemplo, um experimento com giroscópios na órbita da Terra mostrou que o giroscópio sofria um arraste devido às distorção do espaço-tempo causada pelo giro da Terra. Isso, claro, segundo os autores.
Bem, esse é só um ponta-pé. A discussão não precisa começar daqui. Sei que muitos que acompanham o Douglas nem acreditam em gravidade. E alguns dos efeitos que descrevi dependem do modelo de gravidade como descrito pela teoria da relatividade geral. Isso não significa que quem não acredita em gravidade está sendo excluído. Pelo contrário, quanto mais gente e mais idéias, melhor a discussão.
Abraço,
Renan
Há também um quarto ponto que eu gostaria de levantar. Eu tentei editar, mas, por algum motivo, o fórum não aceitou a edição e o quarto ponto não foi. Eu iria colocá-lo como segundo ponto, porque ele é uma resposta mais direta à crítica do Douglas. Eu quero reconhecer a qualidade da crítica. Me fez refletir bem sobre essa questão e confesso que hoje minha posição heliocentrista foi bastante abalada. Mas isso não significa que eu ainda tenha dúvidas quanto ao Geocentrismo. Dessa forma, vou colocar aqui o quarto questionamento.
4) Quais são as escalas esperadas para os efeitos devido ao movimento acelerado e não uniforme da Terra e de todo o supergrupo galáctico?
Essa pergunta é bastante hipotética, a função é só levantar um questionamento mesmo. Mas vou fazer uma analogia aqui:
Quando você está usando patins e empurra uma parede, você é lançado para trás, mas a parede não. Por que não? Embora você realmente faça uma força na parede, e de fato produz uma transformação sobre ela, essa transformação não é capaz de resultar em movimento. Mas a reação da parede à sua força produz uma força em você capaz de te movimentar. Isso acontece porque a estrutura enorme de uma parede, ligada a outras estruturas enormes, garante à ela uma fixação e um atrito que não podem ser vencidos pela força que você aplicou. Mas a sua força será transferida à parede na forma de outros efeitos mais sutis, tais como uma pequena descascada na pintura, uma breve e levíssima compactação do material em contato com a sua mão, e talvez até uma flexão microscópica do concreto. A física por trás desses efeitos periféricos é absurdamente complexa e, se você tentar medir os efeitos, eles podem ser mimetizados por outros efeitos mais prováveis, tais como flutuações de pressão e temperatura do ambiente. Então distinguir as transformações causadas pela sua força no meio de transformações extremamente complexas causadas pelas interações da própria estrutura da parede é um trabalho extremamente complicado. No seu caso, o efeito é facilmente perceptível: você é lançado para trás. No caso da parede, a escala das transformações causadas por você são de difícil detecção e interpretação, fácil de errar e confundir com a própria barra de erro do experimento. O efeito está lá, mas você não consegue achá-lo. Ele é "perdido" no meio de transformações sutis.
Vamos aos movimentos da Terra e do supergrupo.
(1) Quais são as escalas que esperaríamos para efeitos da translação da Terra? Como podemos comparar isso? Quão grande é a variação de velocidade da Terra para que a gente espere efeitos de que magnitude? Sem uma análise quantitativa, a gente fica preso em muita abstração e hipóteses. Acho que referências quantitativas podem enriquecer muito essa discussão. A Terra pode ser uma estrutura robusta demais pra que sua aceleração produza transformações mensuráveis. Tal como o caso da parede.
(2) E se esses movimentos são mimetizados por efeitos mais sutis? Se a magnitude das transformações devido ao movimento da Terra forem suficientemente pequenas, a energia devido à variação da velocidade pode ser transferida de diversas maneiras extremamente sutis. Por exemplo, poderia ser dissipada em camadas muito superiores da atmosfera. Poderia alterar ventos periódicos de maneira muito sutil. Muitas possibilidades. De fato, eu acredito que o clima seria o local mais provável de ser afetado. Mas isso gera um grande problema. A física do clima é uma área extremamente complexa. Ela exige a análise de fenômenos altamente não lineares. É difícil saber o que é efeito e o que é flutuação, o que é uma manifestação periódica ou o que é ruído. Exige um poder computacional de análise gigante. E mesmo assim com previsões errôneas muitas vezes. Não é de hoje que climatólogos levam um banho da natureza. Direto fazem análises erradas, porque o sistema é muito dinâmico, muito não linear, resultado em um trabalho extremamente complicado. Como, então, garantir que os efeitos do movimento da Terra não são mimetizados por outros efeitos climáticos de difícil análise? Além disso, durante o suposto movimento, há variáveis que se tornam mais dinâmicas, como o eixo de rotação. São muitas variáveis que devem ser conhecidas para que haja uma identificação não-ambígua da causa, e se a variação de velocidade da Terra não tiver magnitude suficientemente alta, a análise é cada vez mais complicada. A analogia da parede entra aqui, quando o resultado da força que você aplica sobre ela é a transformação de um número grande de elementos, mas todos com efeitos sutis, e de complicada análise e difícil detecção.
(3) O conjunto de planetas, galáxias, grupo local, formando todo o supergrupo em que estamos inseridos é claramente um objeto extremamente robusto até para o tamanho do universo. Numa primeira análise superficial, eu não esperaria ver efeitos dissipativos, tais como colisões, sendo propagadas de forma detectável até a gente. Toda a energia pode ser perdida de inúmeras maneiras. Por assim dizer, elas nunca venceriam o "atrito" da robustez do supergrupo. A analogia da parede entra aqui com pequenos agentes "empurrando" o supergrupo, mas o supergrupo, tal como a parede, não responde com movimento. Exceto com modificações sutis.
Bem, aqui foram só alguns pensamentos. Seria legal uma discussão sobre o tema.